terça-feira, 24 de junho de 2025

notas desde as ruas de angouleme

essa escrita começa no outono do sul, passa pela primavera no norte e desagua nesse solstício de inverno do sul outra vez.

horas de voo me deixam tensa num nível absurdo. quando o avião tá no meio do oceano especialmente, mas ainda assim é tão bom poder viajar e ouvir de perto outro sotaque, outra língua, outra sazonalidade.
cê sabe ne? já cruzou essa rota...  

quando cheguei em paris a chuva fina me intimidou. o vento e o frio que não sentia desde são paulo se manifestava como se eu fosse parte das folhas que voavam calçadas a fora.
eu lembrei de você e de outros amores da minha vida enquanto perambulava nas velhas ruas de paris, antes de chegar em Angoulême, que estava há 4 horas a oeste.
apesar das nuvens quanto tomei o trêm pra oeste, pude experienciar o sol das 21:20 que seguia sua coreografia de luz. da janela os raios que brilhavam me botaram pra dormir. acordei em angouleme, cidade dos quadrinhos, tão fria quanto paris. já não chovia e a arquitetura quase que completamente medieval me levou pra um tempo em que só tinha percebido em filmes épicos. isso me deixou entregue. eram 0h e alguns minutos quando comecei a caminhar até o hotel. não enxergava muita coisa, as ruas vazias e silenciosas só me instigavam a andar rápido, chegar logo, como quem anda pelo centro do Rio de madrugada. atenta.

Pra minha surpresa estava hospedada ao lado do Rio Charente.
Um rio lindo, de cor esverdeada refletindo a densa mata ao seu redor...
meus dias em Angoulême foram guiados pelo correr desse rio, que desagua no atlântico norte. aproveitei pra encaminhar pedidos e agradecimentos.
minha primeira viagem ao h.n me levou a um campo desértico, água salgada do pacífico...
essa segunda vinda me trouxe pra perto da água doce, da mata. 

coleciono biomas do corpo paisagem. 

 lembro que em 21 de junho de 2020 fizemos uma queima de incensos coletiva, um ritual a distância, já que a pandemia presente não permitia nossas presenças. lembrar disso hoje, vivas, tem um gosto espacial. são 5 anos de la pra cá... e nessa mistura dos tempos que passaram e dos que estão por vir a memória aflora uma cena mesclada de outras que se encontram agora entre a retina que mira o futuro e as escolhas do presente. 


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