domingo, 18 de março de 2018

você vem da mata, não vem?
eu te vi, eu sei.
não digo porque dizer é difícil,
pra mim sempre foi difícil dizer.

eu te vejo por debaixo das folhas, dentro dos troncos, no assobio dos pássaros e nas cores. eu te vejo de noite, quando existe algo em você que te faz sentir-se outros. a noite somos todos.
estou lhe escrevendo em esquema de confissão porque sinto que deveria registrar a preliminar desse toque, porque eu sei que te toca também. dividimos um espaço tão sagrado que nossas cabeças em momentos pesam e em outros, se confundem ou desconfiam.
mas desconfiam de que, meu velho?
desconfiam de tudo que é mais sagrado por que?
eu sei que o meu corpo não desconfia de nada, mas o 'eu' que conheci primeiro não é corpo, é o eu que não morre.
me corrijo.
o corpo também não morre, ele só deixa de ser. mas quem disse que em tudo não é assim? mas quem disse que tudo não é nada?
por isso entendo sua fome de mundo e descoberta, por isso entendo minhas lentas pisadas. por isso entendo nada.
e o toque se aproxima em uma pressão lenta, muito lenta, como o movimento de saturno em volta do sol, mas se aproxima, pra dentro, pra perto.
o toque é, em cada um, de uma natureza, de uma força, de um pesar, de uma beleza, mas é toque.
é depois do toque que a gente chega.


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